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sábado, 31 de março de 2007

Arquitetura preocupada com a ecologia

"Na arquitetura, a preocupação ecológica tem um lugar de destaque. "A arquitetura ecológica deveria ser a forma corriqueira de se tratar o processo de construção", afirma José Henrique Seraphim, engenheiro e professor do curso de Arquitetura da Anhembi Morumbi. "Nas cidades, essa questão é muito importante, pois o homem interfere e altera a natureza, desviando rios, impermeabilizando o solo e agredindo o meio ambiente", enfatiza o professor.

A arquitetura sustentável segue determinadas providências básicas para "alterar o mínimo possível o meio ambiente, além levar em conta a situação do local onde se está construindo, prevendo os materiais corretos para construir", diz o professor. Evitar a alteração da composição do solo, aterros, a emissão de gás carbônico, o aquecimento e o desequilíbrio do sistema de chuvas são preocupações da arquitetura ecológica.

Mais do que uma técnica, a arquitetura sustentável é uma questão de conforto. "É importante que a construção traga conforto para o usuário, para isso deve-se usar o máximo possível dos recursos naturais em iluminação, ventilação, vegetação", conta o professor. Roberta Zakia Rigitano de Paula, mestre em Engenharia Civil pela Unicamp, pesquisou o uso da vegetação. "Colocamos uma planta na frente de uma casa padrão do tipo de conjuntos habitacionais e deixamos outra sem vegetação, medimos diariamente o efeito do conforto térmico que vegetação proporcionava para mostrar sua importância", relatou a pesquisadora. O resultado obtido foi um ganho de conforto térmico notável na casa com vegetação.

"A vegetação é uma solução barata para a melhoria das construções urbanas, no caso de encostas onde há deslizamentos de terras, o reflorestamento dos taludes ou barrancos é essencial para evitar tragédias", afirma a pesquisadora da Unicamp. A pesquisa teve o apoio da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e pode ser consultada por construtoras ou qualquer interessado no uso da vegetação na arquitetura.

O maior problema na adoção da arquitetura sustentável é a desinformação dos próprios profissionais. "A maioria dos arquitetos não têm a consciência nem a formação necessária para preocupar-se com a ecologia", conta o professor da Anhembi Morumbi, José Seraphim.
A falta de incentivo governamental é outra barreira para a arquitetura ecológica. "Os problemas que podem ser resolvidos pela bioarquitetura ocorrem nas áreas mais desfavorecidas, além de atingirem cidadãos sem consciência ecológica", afirma o professor da Anhembi Morumbi.

A utilização de materiais alternativos para a construção é outro item importante entre os arquitetos. "Muitos dos materiais utilizados atualmente causam doenças como o amianto, a ardósia, as tintas sintéticas e os venenos para combater insetos na madeira", cita o professor. Além dos materiais, os erros de projeto arquitetônico são outro problema grave. Detalhes como o excesso de reentrâncias ou a falta de arejamento em uma construção, somados a todos os demais possíveis erros de projeto, causam cerca de 40% das patologias relacionadas a construções, de acordo com o professor.

Basta conhecer melhor os materiais encontrados na natureza para iniciar a prática de arquitetura ecológica, concordam os pesquisadores. "Existem madeiras que têm resistências naturais, não precisam de químicos", conta o professor José Seraphim.

Professor inova ao construir sua própria casa

"É preciso reverter o impacto da construção civil ao meio ambiente utilizando componentes naturais, materiais convencionais como ferro, aço e tijolo, tem alto custo ambiental pois uma tonelada de cimento produz outra de gás carbônico", conta Eloy Fassi Casagrande Junior, professor do mestrado em Tecnologias Sustentáveis do CEFET (Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná). "Para a transformação do aço em alumínio, para cada tonelada, são gastos até 17.000 KW/h de energia".

"Não é difícil praticar a arquitetura sustentável, basta que privilegiemos materiais que estejam ao seu dispor, quando construí a minha casa usei componentes naturais e o resultado foi uma economia de 30%", conta o professor do CEFET. "Com o uso placas solares, em uma casa de 200 metros quadrados, tenho um gasto mensal de 240 KW/h de energia, uma média muito baixa", compara o professor.

"Sempre que se pensa em sustentabilidade, tem que se pensar em uma cadeia, quanto mais se usa a luz natural, menos se utiliza a artificial", conta Diogo dos Santos, coordenador do curso de pós-graduação em Arquitetura e Planejamento Sustentável da Unicenp. "A luz artificial vem da usina hidrelétrica, para ser construída, foi necessário represar um lago, o que também causou grande impacto ambiental e teve ainda outros efeitos", relaciona o professor.

"A terra crua ou compactada, chamada de taipa de pilão, usada na colonização do Brasil é outro tipo de material ecológico", conta Santos. "É uma técnica que precisa ser reabilitada com o que já temos de material convencional na construção, temos que juntar elementos e não abrir mão do que já temos".

O pesquisador Flávio Pedrosa Dantas Filho utilizou princípios de reciclagem para criar materiais alternativos. Mestre em Engenharia Civil pela Unicamp, o pesquisador reciclou pó de serragem de madeira para transformá-los em tijolos para construção. "Minimizamos o impacto ambiental utilizando o pó de serragem e a solução é bastante barata pois basta passar por um tratamento de água e cal", conta o pesquisador. "É muito importante a reciclagem de materiais, as areias que são utilizadas na confecção do concreto vêm cada vez mais de lugares mais longes com custo maior, temos que passar a aproveitar o que é descartado e passar a ter algum ganho".

Abordagens filosóficas

Algumas teorias pregam a necessidade se preocupar com a ecologia e influenciam bastante a arquitetura:

- Energias telúricas: O planeta está envolto em energias que vêm da natureza, do cosmos, dos astros, da atmosfera e da terra. Respeitar essas energias são atitudes importantes para fazer o projeto arquitetônico da forma certa. As energias telúricas (do planeta Terra) são muito importantes para compreender mais sobre o local onde se irá construir.

- Teoria de Gaia: Esta teoria coloca a Terra como um corpo vivo e o seres que nela habitam como responsáveis pelo bem-estar desse organismo. O respeito ao meio ambiente deve acontecer para que se construa da melhor maneira possível. O arquiteto age como um médico que identifica doenças e dá o seu diagnóstico. A sustentabilidade é vista como caminho para o bem-estar. A teoria de Gaia surgiu em 1970 com James Lovelock, autor do livro "Gaia: Um novo olhar sobre a vida na Terra"."

www.universia.com.br - por Renata Aquino

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