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segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Espaços Colaterais - Collateral Spaces II



O frutífero bate-papo girou em torno da apresentação de alguns projetos publicados no livro e sobre o papel do arquiteto na produção dos espaços. Sejam eles urbanos ou de interior.

Não era pra menos, pois no texto que abre o livro, um dos organizadores afirma que os arquitetos são "sub-aproveitados pela cadeia da indústria da construção, excluídos da agenda cultural e distanciados dos desafios reais das cidades brasileiras". Bem como "agem como técnicos obedientes, pragmaticamente treinados em escolas incapazes de vislumbrar modelos alternativos de ação no mundo".

Percebi então, pela conversa, que a maioria é contra o "mercado imobiliário", que o "poder econômico" é nocivo para as cidades e que devemos subverter o modo "capitalista de produção do espaço urbano".

Alguns participantes alegaram que o projeto não foi pra frente por causa de interesses políticos ou porque a lógica mercadológica e econômica é diversa que àquela apresentada no projeto.

Todos os projetos são incríveis, deliciosos de ver, ler e reler. Mas todos erram - uns mais outros menos - por não argumentarem e comprovarem economicamente não só a viabilidade dos projetos mas como tais projetos gerarão frutos econômicos também. E como esses frutos serão utilizados socialmente e ambientalmente.

Um exemplo é o artigo que escrevi junto com os amigos Alfio Conti e Maurício Libânio. O caso das Torres de Santa Tereza.

Trata-se de dois edifícios que por pouco não foi finalizado porque a construtora entrou em processo de falência e foi ocupado por pessoas. O estudo pretende regularizar a posse de maneira legal e sustentável e apresentar soluções para os problemas arquitetônicos.

Para que aquelas pessoas possam morar de fato e de direito nos edifícios, deve-se provar a viabilidade social (as pessoas que ali moram já criaram laços de amizades e profissionais), ambiental (precisa cuidar do esgoto das torres) e, principalmente, econômica (de onde virá o dinheiro para reformar a rede de esgoto do edifícil e a desapropriação dos imóveis).

E não só isso: deve-se provar que o Município gastará menos dinheiro com a manutenção daquelas pessoas lá do que financiando um "programa de assistência social" que garantirá - ou pretenderá garantir - um menor impacto nas pessoas que serão retiradas dos imóveis e/ou com outras indenizações. Não ficou claro no artigo.

Outro exemplo é o Módulo de Pernoite do meu amigo Luiz Felipe Farias. O Módulo de Pernoite é uma estrutura retrátil que possui duas camas, prateleiras e mesas para ser utilizado por pessoas que moram em outras cidades e que trabalham ou procuram emprego em Belo Horizonte. Seria instalado em estacionamentos de veículos durante a noite. Ao amanhecer, o módulo, de fácil manuseio, seria recolhido e ficaria no fundo da vaga sem que atrapalhe o uso dela pelo carro. O texto não explica como os estacionamentos poderão lucrar com essa iniciativa. Porque despesas com certeza terão. Terão que pagar um vigia, um seguro, as pessoas gerarão lixo, algumas não fecharão o módulo...

Último exemplo: como sensibilizar o Poder Público a investir na fabricação de equipamentos para lavadores de carro, verdureiros, etc.?

Você acha um absurdo pensar em "grana" para fazer o bem? O raciocínio é simples. O proprietário de um veículo bicombustível fatalmente só irá abastecer o carro com álcool se o álcool estiver 70% mais barato que a gasolina. A pessoa só irá construir uma cisterna seca se realmente economizar na conta da água recuperando, assim, o investimento. Se seu escritório crescer, você cobrará mais pelos serviços pois as despesas aumentarão, inclusive.

Em Roma como os romanos. Creio que devemos usar o "mercado imobiliário", o "capitalismo", o "poder econômico" a nosso favor. Devem ser ferramentas de trabalho. O capitalismo pode não ser o melhor sistema, mas é o que temos. Parafraseando Churchill.

Então, vamos fazer com que as coisas funcionem economicamente para que os objetivos sociais e ambientais sejam alcançados.

Falta-nos um conhecimento básico de Economia e de Estatística, bem como uma boa interface com os demais proficionais que porventura estarão envolvidos nos projetos. Ainda mais que o arquiteto gerenciará, chefiará, coordenará todos.

A palavra social denota sociedade e não somente pessoas carentes.

Espero que tenha sido claro. Vamos "papear".

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