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sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Lévi-Strauss: último gigante do pensamento francês


Um pouco intempestivo, é verdade, mas não podia deixar passar em branco essa notícia. Lévi-Strauss completou 100 anos em novembro.

Muitos canais de tv a cabo transmitiram vários programas em homenagem ao autor de "Tristes Trópicos", livro escrito depois de morar alguns anos no Brasil. Vale a pena dar uma procurada nas programações.

Depois de saber um pouco mais sobre o pensamento dele, vocês entenderão melhor o porquê do nome Crise [!]. A reportagem abaixo fala um pouco sobre ele mas não o suficiente.

Lévi-Strauss disse que admirava os silvícolas porque eles eram avessos à grandes mudanças. Principalmente às mudanças fugazes. Para os índios, deve-se mudar aquilo que realmente é necessário e justificado. Valorizam as tradições.

Penso que a arquitetura e urbanismo está querendo mudar mas não sabe se há necessidade e se é preciso mesmo mudar ou até mesmo até que ponto precisa mudar. Frequêntemente deparámo-nos com modismos injustificados e instantâneos.

Afinal, ainda somos modernos? Lévi-Strauss pode nos ajudar a responder e a compreender.

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"Conhecido no mundo inteiro como o fundador da antropologia moderna, o etnólogo Claude Lévi-Strauss, que completou 100 anos neste 28 de novembro, é o último gigante do pensamento francês.

Filósofo de formação e pioneiro do estruturalismo que percorreu o mundo para compreendê-lo melhor e estudar seus mitos, Lévi-Strauss trabalhou em prol da reabilitação do pensamento primitivo, às vezes com o olhar de um moralista.

"Sua obra é indissociável de uma reflexão sobre nossa sociedade e seu funcionamento. Tem um enfoque ecológico, antecipado, do mundo e dos indivíduos", escreve seu biógrafo, Denis Bertholet.

Claude Lévi-Strauss nasceu em Bruxelas, em 28 de novembro de 1908, de pais judeus e franceses. Em sua juventude, militou na SFIO (Seção Francesa da Internacional Operária). Em 1931 obteve o título de catedrático em filosofia.

Nomeado professor na Universidade de São Paulo, viajou em 1935 para o Brasil, onde dirigiu várias missões etnológicas em Mato Grosso e na Amazônia. Contou essa experiência em sua autobiografia intelectual, "Tristes Trópicos" (1955), um dos grandes livros do século XX.

De volta a Paris às vésperas da Segunda Guerra Mundial, foi convocado em 1939 e depois deu baixa por sua origem judia. Em 1941 se refugiou nos Estados Unidos, deu aulas em Nova York e conheceu ali o lingüista Roman Jakobson, que teve uma grande influência sobre ele.

Em 1949 assumiu o cargo de vice-diretor do Museu do Homem, em Paris.

Em 1959, ocupou a cátedra de antropologia social do Colégio da França, onde trabalhou até sua aposentadoria, em 1982. Doutor honoris causa por várias universidades de prestígio (Oxford, Yale, Harvard, etc.), foi o primeiro etnólogo eleito membro da Academia Francesa, em 1973.

Nesta última obra, editada em 1962, demonstra que não há uma verdadeira diferença entre o pensamento primitivo e o moderno. "Não se trata do pensamento dos selvagens e sim do pensamento selvagem. É uma forma que se atribui a toda Humanidade e que podemos encontrar em nós mesmos, mas preferimos, no geral, buscá-la nas sociedades exóticas", explicava.

É também autor de "Mitológicas", onde o primeiro de seus quatro volumes ("O cru e o cozido") ilustra a oposição entre a natureza e a cultura. Lévi-Strauss sondou profundamente as relações entre a cozinha e a cultura.

Com sua silhueta delgada, seus cabelos brancos e olhar agudo, Claude Lévi-Strauss é intimidantemente tímido, mas tem uma presença imponente e uma grande capacidade de ouvir.

Pouco preocupado com a posteridade, não escreveu memórias, mas falou delas com Didier Eribon em um livro-balanço intitulado "De perto e de longe".

"Cada um de seus livros é um manual do pensamento que força a inteligência a se abrir, e uma espécie de evangelho laico que ajuda a se comover diante da vida", escreveu sua amiga e especialista em sua obra, a filósofa Catherine Clément.

Em uma das poucas entrevitas que deu nos últimos anos (em 2005), depois de evocar sua "dívida para com o Brasil", afirmava: "vamos para uma civilização em escala mundial. Na qual provavelmente aparecerão diferenças, ao menos é preciso esperar por isso (...). Estamos num mundo ao qual já não pertenço. O que eu conheci, o que eu amei, tinha 1,5 bilhão de habitantes. O mundo atual tem 6 bilhões de humanos. Já não é o meu mundo"". Fonte: AFP

2 comentários:

Anônimo disse...

Não é o mundo dele, mas foi o que sobrou para nós!! Muito legal a reportagem...

Marco Antonio Souza Borges Netto - Marcão disse...

Ele esteve a frente de seu mundo. A teoria é atual.