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segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Cabeça de arquiteto

O Alberto acha melhor nem saber o que tem dentro da cabeça de um arquiteto. Mas ele mostrou o que passou na cabeça de um.

Cômico se não fosse trágico. Ou vice versa.

"Fake Plastic Pilotis
ou
O Curioso Caso de Phillip Jonhson
por Alberto

A forma como fui apresentado a certas figuras da arquitetura durante os meus sabáticos anos universitários podem ser classificadas de duas formas: Horário Eleitoral Gratuito do Partido Modernista, e o que carinhosamente era chamado de “história” – ou seja, o relato arqueológico do resto – de art décor ao deconstrutivismo.

Comecei a desconfiar que Le Corbusier não tinha realmente vindo de Krypton já durante a faculdade, apesar de farta documentação em contrário – assim como descobri que lelé mesmo era o Oscar. E, mesmo já sabendo que a leitura de El Croquis e AV também não causava cegueira nem fazia crescer cabelo nas mãos, a tarefa de rearranjar certas concepções se arrastou ao longo dos anos; até hoje tem mais livros no chão que acomodados na minha estante mental.

Um exemplo desse vácuo, até recentemente, foi Phillip Johnson. Nunca entendi o que a Glass House fazia na aula de pós-modernismo. Na verdade, seria mais apropriado dizer que eu nunca me interessei por entender o que a Glass House fazia na ala psiquiátrica da arquitetura, e nenhum professor também nunca se interessou em comentar.

Até que Witold Rybczynski, na Slate, deu a fita completa, na sucessão de slides mais constrangedora para um arquiteto que eu já vi. (Meus amigos dizem ver a toda hora, mas não divaguemos). Que a Glass House era uma espécie de releitura da Farnsworth, já sabiamos. O que eu particularmente não sabia era o quanto essa releitura era analfabeta. E que a vida toda de Johnson era uma coleção incrível de analfabetismo arquitetônico, no nível que só esperamos encontrar em urbanistas ou fiscais da prefeitura.

A sessão de slides não deixa dúvida: Johnson é o maior (ou melhor, mais célebre) fashion victim da história da arquitetura. Testou todas as modas; não entendeu nenhuma. Com o tempo, conseguiu a façanha de largar como crítico avant-garde do modernismo e chegar como uma paródia involuntária do deconstrutivismo.

Mas o que parece uma involução, na verdade é apenas a aplicação teimosa de um mesmo método: tentar se manter antenado às tendências, a qualquer preço.

Como sabemos, só o medo adolecentente de “estar por fora” explica certas preferências musicais (e certos piercings). Mas adolescência é fase, ainda que a cada dia mais alongada. Prolongada por uma vida inteira, passa a impressão de involução. Assim Phillp Johnson , o Benjamim Button da arquietura escolheu viver: como um tiozão de afastador na orelha ouvindo Jonas Brothers.

PS: Vivo reclamando de certa arquitetura brasileira que resiste bravamente (nos vários sentidos do termo) a evoluir esteticamente . Mas muito pior é não ter sequer um fio da meada, uma idéia sobre arquitetura que se possa rejeitar com o tempo - ou reafirmar a vida inteira."

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