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quinta-feira, 5 de novembro de 2009

O arquiteto entre dois mundos: o real e o arquitetônico (ou inexistente)

"Cerca de 120 obras, realizadas por um dos mais importantes arquitetos do século XX, são apresentadas em Le Corbusier - entre dois mundos. A exposição fica até o dia 07 de dezembro no Espaço Mari'Stella Tristão do Palácio das Artes". Confira a programação aqui.

Vale a pena conhecer a exposição e refletir um pouco mais sobre a atuação do Arquiteto Urbanista.

Segundo Le Crbusier, no livro Conversa com os estudantes das escolas de arquitetura, "titulares de um ofício em que invenção, pureza e qualidade moldam o produto, virtudes que dependem do carácter, ver-vos-eis além disso lançados na vida, com os seus obstáculos de vaidade, de cupidez, ou muito simplesmente de adversidade. Sereis então os únicos donos do vosso destino, a partir daí estareis sós".

Sós até demais. As nossas cidades que o digam. Exemplos são a Copa do Mundo e as Olimpíadas, que trazem problemas que, para nós, seriam resolvidos pelos arquitetos urbanistas. Mas preferimos ficarmos às voltas com os "obstáculos de vaidade" a unirmos em prol das cidades e, principalmente, das pessoas.

Senão, acompanhem a luta solitária da Ana Nobre, que afirma ter escrito o Manifesto pelo Rio no plural, "imaginando adesões que talvez nunca venham. Ou por milagre virão, e não tarde demais".

E não é só no Rio que acontece isso. Infelizmente acontece em todas as cidades.

Em Belo Horizonte, por exemplo, todas as grandes decisões - Linha Verde, Centro Administrativo, "Vila Viva", atualização do Plano Diretor, rodoviária passaram - e passam - incólumes no meio arquitetônico.

Salvo o debate proporcionado pelo MOM sobre o PGE, há um silêncio geral da classe.

Le Corbusier foi o primeiro que compreendeu as transformações que o automóvel exigiria no planejamento urbano e baseou sua arquitetura nas necessidades humanas. Necessidades essas que hoje são decididas única e exclusivamente pela política.

Até quando viveremos entre esses dois mundos, o real e o arquitetônico? Quando atuaremos efetivamente no mundo real?

Em tempo:

Para complementar o que digo, sugiro a leitura do post do blog Vista do Observador.

Lá traz uma entrevista do arquiteto suiço Max Bill aonde ele critica a arquitetura moderna brasileira e a resposta do Lúcio Costa.

Comentei que o que falta hoje em dia são os debates e críticas sobre temas e teorias, e não sobre pessoas, apesar da afirmação de Lúcio Costa: "Ilustra o referente artigo um projeto do mestre de Ulm (Max Bill) que figura no seu referente livro ilustrativo - tão interessante e necessário sob outros aspectos. Dada a escassez de sua obra, deve ser coisa importante. Tire cada qual sua conclusão".

E isso me fez pensar que esse silêncio todo pode ser proveniente, em parte, desse pensamento: o de que só pode criticar/analisar arquitetura quem projeta/constrói. Já discutimos isso na blogosfera.

Um comentário:

Henrique Gonçalves disse...

Belo post, Marcão, e muito obrigado pela referência!

É triste nos sentirmos tão quixotescos, enfrentando moinhos de vento logo em um assunto tão importante para toda a sociedade. A professora Luisa Nobre talvez seja o mais nobre exemplo dessa luta nos dias atuais,

o mais triste é que essa alienação e falta de debate não se resume só ao mundo leigo, mas também às escolas de arquitetura...

será quando que eles irão se importar?