Arrudas 2011
O texto abaixo é de 1997. Por que todo verão as notícias são as mesmas? É óbvio que as soluções nunca resolverão o problema das enchentes. Só esse ano, a Prefeitura de Belo Horizonte gastará quase 60 milhões de Reais para recuperar áreas afetadas pelas chuvas, que vão desde recapeamento de vias até habitação. Ciente de que todo ano chove e que pode haver enchentes, esses milhões de Reais são um completo desperdício.
Se continuarmos impermeabilizando o solo - com asfalto, cimento e telhado - as enchentes serão cada vez mais frequentes e piores.
E bons exemplos temos. Mas continuamos na contramão. E é bem provável que no final desse ano o assunto será o mesmo.
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ÁGUAS DA PROSPERIDADE[1]
As águas da
chuva não são recursos naturais, enquanto não pensemos que podem ser. Enquanto
isto, provocam catástrofes anunciadas, colhendo de surpresa a humanidade. Há
muitas maneiras de aproveitar águas de chuva, obtendo quem o faz economia para
si, de 1 real por metro cúbico (1.000 litros). Importante é notar que esta é
economia de acesso democrático porque o cidadão que tem um teto já fez o
investimento principal, que é o telhado, seu perfeito coletor. O complemento do
investimento consiste em colocar calhas e recolher a água numa caixa, de 2.000
litros por cem metros quadrados de telhado, tampada como qualquer outra. Essa
água é quase potável, e melhor que a de muitas cidades. Pode ser usada em
sanitários, jardins, hortas, lavagem de roupas, carros, calçadas, para dar
exemplos comuns.
Galpões,
garagens, postos de gasolina, serralherias, escolas, universidades, com
telhados de grande área, têm muitos usos possíveis para as águas de chuva,
alcançando expressivas economias (um galpão de 10.000 metros quadrados, de
siderúrgica ou supermercado, coletando dois terços da chuva de outubro a março,
economiza 1.500 reais por mês).
De outro
ângulo, quem usa água de chuva ajuda a
controlar enchentes, erosão,
assoreamento; a evitar a morte gradual dos rios; a diminuir o consumo de
produtos de tratamento e de energia de adução; a reduzir o número de
desabrigados; a reduzir outros estragos (os últimos levarão tempo para serem
corrigidos e pararem de dar prejuízos). Já escrevi que se forem implantados
coletores em telhados, que representem 1% da área de Belo Horizonte, a economia
anual alcançada será da ordem de 3,35 milhões de reais. A indireta, podem crer,
é muito maior, porque, além do benefício ambiental e econômico, a efetiva
educação daí resultante vai fazer o povo abrir os olhos para outros grandes
desperdícios que estão por aí, condenando o país a não alcançar prosperidade
alguma. Isto justifica que governos pratiquem a renúncia fiscal em instrumentos
de gestão que estimulem a coleta de águas pluviais, sem desembolso direto,
contrariamente ao caso dos piscinões de São Paulo, que tipificam solução
onerosa, irreprodutível, deseducativa e com objetivo limitado ao combate às
enchentes. Águas de chuva aproveitadas são as águas da prosperidade; em caso
contrário são as do luto e da pobreza.
O manejo das
águas de chuva compreende outras vias de grande repercussão ambiental e
econômica, mas não as querem e ficam nesse nhenhenhém que não vai resultar,
porque segue a linha de sempre, que produziu os resultados conhecidos. Dir-se-á
que a proposta não elimina enchentes, e é verdade, mas contribui e é fato
evidente que retirar meio metro no nível do rio que transborda faz a diferença
entre perturbação tolerável e
catástrofe.
Para terminar:
entidade internacional concede certificado de qualidade a empresas que zelam
pelo meio ambiente. Entre contempladas com o diploma estão muitas que, com
imensos telhados não aproveitados, contribuem para o maior dano ambiental
imposto às áreas urbanizadas (por aí se vendo que não temos muitos de quem
copiar).
BELO
HORIZONTE, 18/04/97
EDÉZIO
TEIXEIRA DE CARVALHO
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