Fustel de Coulanges afirma, em sua obra intitulada A cidade antiga, que “a obtenção do verdadeiro conhecimento dos povos gregos e romanos exige que os estudemos sem a idéia fixa de considerá-los como nós, dado o fato de sermos seus herdeiros culturais; é preciso estuda-los como se nos fossem inteiramente estranhos”.
Não pretendo, aqui, e nem é o momento, discorrer sobre o livro nem aprofundar o tema. O intróito foi para chamar a atenção de que estamos sendo pródigos com a herança que nos foi concedida. Senão vejamos.
Os povos antigos da Roma e da Grécia construíam pórticos para receber uma pessoa importante. Esse costume ainda é notado. Em Belo Horizonte, por exemplo, quando os reis dinamarqueses vieram visitar a cidade, no início do século XX, a principal praça da cidade (Praça da Liberdade) foi toda reformada; a visita do Papa João Paulo II em meados de 1980 na capital mineira ensejou a construção de uma praça; recentemente, no final de 2005, o governo de Minas Gerais iniciou as obras para a construção da Linha Verde que era para receber os participantes da reunião anual do BID.
Outro exemplo é as Olimpíadas, o esporte. Pão e diversão para o povo distrair dos problemas das cidades. Algo semelhante com os dias de hoje.
Mas o principal quinhão é a democracia. Não como foi apregoada em outras épocas, mas idealizada a partir de gregos e romanos antigos.
Caso não tenha percebido, são heranças marcantes e totalmente dispensáveis (com exceção da democracia). Não precisariam perdurar até hoje, rendendo lucros e dividendo, relegando a democracia, a ética, moral, respeito ao próximo e às leis, a aplicações menos nobres. Algumas delas estão em juízo.
Coulanges, concluindo sua obra, constata que “estabelece-se uma crença: constitui-se uma sociedade humana (hoje as crenças são estabelecidas, mas perdemos o conceito de sociedade humana). Modifica-se a crença: a sociedade atravessa uma série de revoluções (até agora só há revoluções digitais). A crença desaparece: a sociedade muda de aspecto (e isso está mais freqüente. Hoje não cremos em mais nada)”.
Crença, aqui, ao contrário do sentido de Coulanges, não tem o sentido religioso. Está ligado ao verbo crer puro e simples.
Hoje não cremos em mais nada. A esperança está em estado terminal. Vivemos em um mundo digital, fictício, sub-utilizando a ferramenta da Internet. Criando, assim, mais um enclave invisível. A impunibilidade é patente e não acontece nada. Os governos não ouvem as pessoas. O respeito ao ser humano é escasso, do trânsito à política; de nossas casas ao trabalho. Generalizou-se, é verdade.
E o que a Arquitetura e Urbanismo tem haver com isso?
Muita coisa. Só do que foi falado aqui, TUDO.
Os enclaves, os viadutos...
E aí? Voltaremos a debater esse tema.
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