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terça-feira, 3 de outubro de 2006

Menos Inquietação. Mais Ação.



"Que se esclareça: crítica é diálogo, não julgamento. E esse diálogo, longe de ser um discurso laudatório ou condenatório, só se estabelece verdadeiramente na sua relação com a obra de arte/obra de arquitetura. Por isso tantas leituras críticas sobre Cézanne, por exemplo, e nenhuma sobre qualquer dos retratistas que estão por aí nas ruas das cidades. A arte se expõe à crítica, dialoga com ela, intensifica-se mesmo por seu intermédio. Ou não é arte. E a arquitetura?" Ana Luiza Nobre (http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq002/arq002_02.asp)

O texto saboroso da arquiteta Ana Luiza Nobre não trata especificamente do tema desta postagem, mas há nexo, provocando-nos inquietação. Talvez a postagem possa complementar o texto em epígrafe no que tange principalmente às perguntas: afinal, falta crítica e/ou falta arquitetura? Faltará um projeto à nossa arquitetura?

De fato a arquitetura, principalmente a brasileira, encontra-se em estagnação, como refere a autora.

De certo, isto deve-se ao arquitetos e aos seus clientes, sejam diretos e indiretos. Pelo arquiteto, mesmo que projete-se um edifício, deve-se pensar no impacto que a construção fará no cotidiano das pessoas que no entorno dele transitam. Se tratarmos de uma obra de urbanismo, nem se fala.
Pelo lado dos clientes diretos e indiretos, deve-se pensar se os objetivos democráticos da obra serão alcançados, onde haverá perdas e ganhos, se motivará alguma reflexão, etc. Reitero, aqui, o que NOBRE afirmou: a arquitetura contemporânea não é obrigada a se reportar a qualquer projeto ideológico.

O segundo motivo deve-se ao fato de que é cada vez mais difícil distinguir se uma determinada obra é artística ou arquitetônica. Um exemplo são as obras de Richard Serra e de Oiticica, como demonstram as ilustrações respectivamente. Será que o artista tem algo de arquiteto e/ou é o contrário?

Por fim, a referida estagnação de questionamentos, de crítica e de diálogos na arquitetura, tem haver com o período da pós-modernidade. Segundo o sociólogo Zygmut Bauman (livro "O mal-estar da pós modernidade") a pós-modernidade tem como marca "a vontade de liberdade, algo que acompanha a velocidade das mudanças econômicas, tecnológicas, culturais e do cotidiano. Isso implica, de fato, em uma experiência na qual o mundo é vivido como incerto, incontrolável e assustador, algo diverso da segurança projetada em torno de uma vida social estável, ou da ordem, como pensou Freud."
E poucas pessoas - e essas ainda não descobriram como refletir seus pensamentos nas sociedades - assimilaram esse conceito e remam contra a maré, construindo, como disse anteriormente, espaços nada públicos, condomínios muito privados e muros - invisíveis ou não - cada vez mais altos. Segregação total.

Realmente, como afirma NOBRE, falta crítica na arquitetura. A cidade cresce, não pára e ficamos a contemplá-la, temos piedade dela, mas nada fazemos para socorrê-la. Não basta somente a inquietação. Falta ação.

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