Pesquisar no blog

quinta-feira, 26 de junho de 2008

"O terreno é do Estado"

Adriano Souto*

O prefeito Fernando Pimentel vai ter que se esforçar muito para convencer a população da necessidade de retirar a rodoviária do Centro de Belo Horizonte. Na Câmara dos Vereadores, o projeto 1.508/07 passou fácil no primeiro turno, com 24 votos a favor e apenas sete contra, placar que não deve ser diferente no segundo turno, previsto para depois do Carnaval. O prefeito domina politicamente os votos da Câmara, mas não os dos deputados estaduais, na Assembléia Legislativa. Aos poucos se revelam detalhes do projeto que fogem ao controle de Pimentel. Como, por exemplo, o fato de os arquitetos da prefeitura terem projetado a nova rodoviária em um terreno que não pertence à municipalidade, mas ao Estado, onde também se encontram cerca de 400 famílias na Vila Calafate, que terão de ser desalojadas.

Apesar de já terem sido promovidas audiências públicas na Câmara, muita discussão ainda precisa ser feita antes que a rodoviária instalada na Praça Rio Branco tombe diante dos argumentos daqueles que acham que ela mais atrapalha do que ajuda. Para muitos usuários, a rodoviária no Centro mais ajuda do que atrapalha. É como se diz no interior: é mão na roda. O passageiro desce no coração da capital, embora seja em um trecho ainda não revitalizado, como Pimentel tem feito em vários outros, com aplausos de todos, a exemplo da Praça da Estação, da Rua Rio de Janeiro, da Praça 7, da Rua dos Caetés e, agora, na Praça Raul Soares.

Os usuários da rodoviária não participaram das audiências realizadas na Câmara Municipal de Belo Horizonte, até porque a maioria deles mora no interior. E os que foram lá, conforme publicação da Associação dos Moradores do Calafate, não gostaram do projeto e rejeitam a transferência. Temem que o caos do trânsito de ônibus na rodoviária, que acontece apenas em um feriado ou outro, não mais do que em dez dias por ano, se mude para a Região Oeste. Tem até morador de Contagem pensando como fazer para chegar ao Centro de BH caso a rodoviária vá para a Via Expressa. É só pegar a Avenida Amazonas, sugeriu um outro. A Via Expressa, na realidade uma Avenida Sanitária que segue o leito do Ribeirão Arrudas, dominado pelo concreto durante o Governo Hélio Garcia, surgiu exatamente, entre outros motivos, para desafogar a Amazonas.

Outra alternativa seria o metrô. Aliás, o prefeito Pimentel argumenta que a rodoviária no Calafate ajudaria a viabilizar o metrô, na medida em que o sistema de trens sobre trilhos que existe ganharia mais passageiros. Hoje, uma passarela da atual rodoviária liga o passageiro à Estação Central do metrô, e nem por isso o sistema se viabilizou. Em segundo, o metrô teria que funcionar 24 horas por dia, o que é inviável, na opinião do coordenador de Planejamento do Metrô de BH, Adão Guimarães, conforme publicou o HOJE EM DIA. Além disso, o metrô funciona das 5h15 às 23 horas. Mas boa parte dos ônibus partem após as 23 horas e chegam antes das 5h15.

O prefeito Pimentel tem razão em um ponto: nem a prefeitura nem o Governo do Estado vão gastar um tostão para construir a nova rodoviária. Será feita uma licitação e o vencedor vai arcar com os custos. Em troca, o vencedor vai cobrar a taxa de embarque dos passageiros, como já é feito hoje, durante 30 anos. Por esta razão, a renda de um novo terminal viabiliza o empreendimento, mas não as de quatro ou cinco terminais, conforme sugestões surgidas durante o debate e registrada por este jornal. Há quem queira construir minirrodoviárias nas saídas para o Rio, Vitória, São Paulo e Brasília, todas interligadas ao terminal central no início da Afonso Pena.

Porém, segundo o prefeito, estas quatro minirrodoviárias não seriam viáveis financeiramente, não interessariam aos possíveis investidores.

De qualquer maneira, o prefeito, seja Pimentel ou o próximo, terá de enfrentar não só aqueles que desejam que a rodoviária seja tombada pelo Patrimônio Histórico e continue na Praça Rio Branco para sempre, mas também os deputados estaduais, que não obedecem ao prefeito, mas ao governador. E já que o terreno é do Estado, a Assembléia terá que autorizar a destinação da área.

(*) Adriano Souto é editor-adjunto de Política do Jornal "Hoje em Dia" (http://www.hojeemdia.com.br/v2/busca/index2.php?data_edicao_anterior=2008-01-16&sessao=21&colunista=1)

Nenhum comentário: