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terça-feira, 24 de junho de 2008

A obsessão pela imagem é nociva para a arquitetura? (3) ou A obsessão pela imagem é um mito para a arquitetura (?)

Na postagem anterior disse que hoje em dia não nos preocupamos com a imagem. Arquitetos urbanistas podem achar que estão fora dessa categoria. Mas não é verdade. Fosse assim, não estaria escrevendo essas linhas.

A obsessão pela imagem é um mito. Como a imagem poderá ser vista, contemplada, observada, analisada em cidades que valorizam a questão do trânsito?

Achei no blog http://arqsite.blogspot.com/ a entrevista abaixo que ilustrará um pouco o que digo.

"Enrique Peñalosa, ex prefeito de Bogotá, concedeu uma excelente entrevista para o New York Times chamando atenção para a importância das calçadas no planejamento urbano e relacionando a qualidade das calçadas com a qualidade da democracia. Seguem alguns trechos:

Qual a primeira coisa que você diz para prefeitos fazerem?- Nos países em desenvolvimento, a maioria das pessoas não têm carros. Então digo: quando você faz uma boa calçada, está construindo democracia. Calçadas são símbolos de igualdade.

Calçadas não me parecem prioridades nos países em desenvolvimento.- São a última coisa que fazem. A prioridade é fazer estradas e avenidas. Fazemos cidades para carros, carros, carros, carros. Não para pessoas. Carros foram inventados muito recentemente. O século 20 fez um desvio horrível na evolução qualitativa do habitat humano. Construímos, hoje, pensando mais na mobilidade de carros do que na felicidade das crianças.

Mesmo em países nos quais a maioria não tem como comprar carros?- As pessoas de maior renda nos países em desenvolvimento nunca andam. Elas vêem a cidade como um espaço ameaçador. Passam meses sem andar uma única quadra.

Isso também não é verdade para os EUA? -Não em Manhattan, mas há muitos subúrbios em que não há calçadas, o que é sinal de falta de respeito para com a dignidade humana. As pessoas sequer questionam isso. É como a França pré-revolucionária. As pessoas achavam que a sociedade estava normal, assim como as pessoas acham normal, hoje, que o acesso à praia em Long Island seja particular."

Por que privar o ser humano de um passeio? Ou simplesmente limitar as opções de mobilidade?

Jaime Lerner, em uma entrevista à extinta revista Pampulha, na década de 1980, (sim, naquela época o trânsito já era um problema) disse que para resolver a questão do trânsito bastava esquecer do carro.

Algumas cidades fazem alguma coisa pela mobilidade do pedestre. Mas é suficiente? Não. Belo Horizonte, por exemplo, há mais de 30 anos que o metrô não sai do papel.

Obras viárias pipocam com frequência e com rapidez. Mas uma ação que estimule a mobilidade do pedestre é rara e demorada. Sim, perguntem a alguns moradores de Beagá aonde fica o Palácio da Justiça ou o que tem no topo do prédio da Faculdade de Direito da UFMG. Perguntem também quantos arcos possui a Igreja da Pampulha.

Temos que andar pela cidade. Um lugar frequentado por pessoas tende a diminuir a violência. Um exemplo é a Praça da Liberdade. Imagine ela sem pessoas caminhando ao anoitecer.

Carro é importante, útil. Mas andar e caminhar pela cidade também o é.


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